Desde o mês de setembro tenho postado artigos em nosso portal da Academia Cristã de Letras – ACL, uma série de artigos em comemoração aos 100 anos do Rádio no Brasil sempre de maneira positiva e favorável. São inúmeras as qualidades do Rádio como veículo de comunicação de massa, mas há uma série problemas que foram se agravando ao longo dos anos e que nos deixam em dúvida a sobrevivência deste modelo de transmissão por ondas sonoras ainda hoje muito útil.
Isto apenas não basta, as emissoras de um modo geral são empresas privadas e para a sua sobrevivência, é preciso obter lucratividade. Mas desde o surgimento da televisão, especialistas em mídia apontam para o fim do Rádio sempre para daqui alguns anos. Só que o Rádio resiste, aos trancos e barrancos, mas segue vivo, ouvido e admirado por boa parte da população, especialmente das classes mais populares. Depois que vieram as redes de televisão, o alcance regional das rádios em AM ou FM, despencou em termos de audiência e anunciantes.
Ninguém na mídia sobrevive sem veicular anúncios comerciais e o faturamento das rádios começou a declinar na década de 1970, quando a televisão ganhou cores e via satélite passou a transmitir sua programação em rede nacional. As rádios, na maioria de alcance regional, passaram a perder ouvintes e anunciantes, ao mesmo tempo em que a TV crescia com recordes sucessivos na quantidade de anúncios comerciais que trouxeram lucros extraordinários não só às empresas televisivas, mas também aos anunciantes que investiam em caros patrocínios, cujo retorno era quase que imediato.
Empresas que fabricam cervejas e refrigerantes, além das montadoras de automóveis e os grandes bancos continuam investindo milhões em anúncios na TV aberta. Para as rádios o que sobrou foram as propagandas de remédios e algumas lojas de comércio popular, além de outros poucos anunciantes. As agências de publicidade entendem que no subconsciente, anúncios bem-produzidos despertam no consumidor um gosto especial para adquirir determinado produto. Por isso, certos comerciais de televisão custam mais caro que filmes de longa-metragem, mas o resultado para quem investe em propaganda no horário nobre da TV, continua sendo satisfatório. Por quê?
As novelas e o futebol costumam dar mais de 30 pontos de audiência na TV aberta que no Rádio, os programas de maior audiência dão no máximo 1 ou 2 pontos, mesmo alicerçados pelo YouTube ou Facebook. Entenderam a diferença? No Rádio com um bom texto e boas vozes gravam-se comerciais de custo baixíssimo, mas a lucratividade também acaba sendo pequena por causa do fator audiência. Embora a maioria das emissoras de Rádio também transmita em rede, nem sempre o anúncio tem abrangência nacional.
Enquanto algumas rádios de uma mesma rede vendem a sua propaganda, em outras praças, as coligadas não conseguem vender e precisam ocupar o espaço da programação destinado aos comerciais com chamadas de outros programas da emissora. Quando chega a hora de repartir os vinténs surgem as discussões e o setor, por esses e outros motivos vive em crise, sempre fazendo a chamada “contenção de gastos”.
Para se ter uma ideia, no início da década de 2000, apenas 3% de tudo o que se arrecadava em mídia no Brasil se destinava ao Rádio. Até as empresas de outdoors, expulsas da cidade de São Paulo pela “Lei Cidade Limpa”, em 2006, faturavam mais que as rádios. As consequências estão aí até hoje, várias emissoras venderam seus horários ou mesmo arrendaram seus prefixos para pastores e igrejas evangélicas.
Diante desta situação, a mídia radiofônica desde a década de 1970, tem pago os menores salários da mídia, para seus profissionais. Quem trabalha em uma rádio costuma ter também um segundo ou até terceiro emprego para cobrir todas as despesas de uma família. Quem é do ramo sabe que não estou mentindo. A internet, entretanto, trouxe benefícios ao Rádio que está conseguindo falar mais longe com a mesma qualidade de som de uma emissora local, sem as oscilações e o melhor de tudo: com imagens.
As webcams levaram o rosto dos apresentadores do meio Rádio que estão no estúdio para os ouvintes que acompanham a programação pelos portais e aplicativos, além de colocá-los em destaque nas redes sociais. Foi o balão de oxigênio que o combalido Rádio tanto precisava e ainda precisa para sobreviver. O levantamento mais recente da Associação Brasileira das Emissoras de Rádio e Televisão – ABERT, aponta uma pequena melhora. Agora, entre 4% e 5% das verbas publicitárias, se destinam ao meio Rádio, mas a luz amarela de alerta nas finanças continua acesa: Para sobreviver, será preciso melhorar a qualidade daquilo que está sendo levado ao ar. Na internet o conteúdo de informações é imenso e para segurar o ouvinte será preciso muito mais do que simplesmente tocar músicas ou conversar sobre amenidades. Ao mesmo tempo, os aplicativos, streamings e podcasts estão cada vez mais sendo acessados porque agora, é o ouvinte que escolhe o dia e o horário para ouvir seu programa preferido. Nessas novas ferramentas estão sendo colocados comerciais que vão de encontro ao perfil dos web-ouvintes e isto tem facilitado a veiculação de anúncios pelas emissoras.
Os radialistas Fernando Vítolo, Nilo Frateschi Jr e Heródoto Barbeiro lançaram em setembro um livro que recomendo a todos e todas que apreciam uma boa leitura e gostam de ouvir rádio. Os autores enfatizam que agora, para se ter acesso às emissoras de rádio não são mais necessários os botões de ligar e mudar de estação. "Os smartphones recebem sem ruído uma enormidade de canais radiofônicos trazidos pela web e as tecnologias do Metaverso e do QR Code tendem a deixar o rádio ainda mais acessível". Isto tem trazido esperança de sobrevida para o Rádio que poderá voltar a ser lucrativo para os proprietários das emissoras.
Com esse artigo encerro minha série de postagens sobre os 100 Anos do Rádio no Brasil, sempre na torcida para que esse veículo consiga durar pelo menos mais um século cumprindo sua meta de divertir, informar e fazer companhia às pessoas. O Rádio não vai morrer tão cedo? Assim espero! Abraços fraternos a todos e todas que visitam o nosso Portal ACL e que me acompanharam nesta série de artigos. Ah! também estou no livro dos “Campeões do Microfone”, conforme a foto acima. Motivo de orgulho para todos nós!
Fontes:
Portal Abert: As receitas da indústria de radiodifusão
https://www.abert.org.br/web/dados-do-setor/estatisticas/faturamento-do-setor.html
Livro: 100 Anos de Rádio no Brasil - Na voz dos campeões do microfone
Autores: Nilo Frateschi Jr, Heródoto Barbeiro, Fernando Vítolo/Editora Lafonte/São Paulo/2022
www.100anosderadionobrasil.com.br
Geraldo Nunes, jornalista e escritor, ocupa a cadeira 27 da Academia Cristã de Letras - ACL