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  • Fonte: Folha de São Paulo - Coluna de Marcos Troyjo

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Mercados cada vez mais protecionistas. Custos crescentes de mão de obra. Tais constatações —marcas da atual fase de desglobalização— estariam erodindo as bases da competitividade do Sudeste Asiático.

A retomada econômica do Japão após a Segunda Guerra Mundial, turbinada pelo Plano Marshall, gerou repetidos ganhos de produtividade e salários para os japoneses. Com o consequente aumento nos custos da mão de obra no Japão, nos últimos 40 anos transferiram-se empreendimentos para países mais tarde conhecidos como "tigres asiáticos".

Esta dinâmica fez da Ásia região especializada em "adaptação criativa" —que convidada a um perfil fortemente exportador. Nascia assim o chamado "Modelo Asiático".

Tal fórmula lograva basicamente produzir versões mais baratas —e muitas vezes mais eficientes— de tecnologias existentes, e alcançar excelência na exportação de produtos manufaturados.

Graças a esse modelo, os japoneses há um tempo tornaram-se os maiores exportadores de bens de capital para os EUA —posição em que foram ultrapassados recentemente pela China. Esta, por seu turno, é o principal destino de exportações de bens de capital de um outro ilustre intérprete do "Modelo", a Coreia do Sul.

Salta também aos olhos que outra interessante característica do Modelo Asiático: o desapego ao chamado "core business". A pujança de conglomerados multissetoriais é uma das principais marcas da economia sul-coreana, chinesa e japonesa. A sul-coreana Samsung tem hoje mais de 100 áreas de negócios. A BYD chinesa faz carros elétricos e telas de computador. A Mitsubishi japonesa produz foguetes especiais e automóveis de passeio.

A estratégia asiática foi, em verdade, interpretação específica de um modelo mais amplo, o da "Nação-Comerciante", que prioriza mercados externos e atração de investimentos estrangeiros diretos como principais trampolins para a prosperidade.

Este modelo, com suas adaptações pertinentes, também foi plenamente utilizado em países como Alemanha e Chile. Contrasta com o modelo de "Nação-Passivo", que privilegia mercado consumidor interno e proteção paternalista de indústrias locais, além de combinar baixas taxas domésticas de poupança e investimento.

Desnecessário dizer que o modelo de "Nação-Passivo" tem dominado a América Latina nos últimos setenta anos. Em comparação com o desempenho do Sudeste Asiático, os resultados latino-americanos são marcadamente insatisfatórios.

Em sua vertente asiática, tal modelo de maior inserção na economia global talvez não esteja acabando, mas evoluindo. Constitui-se ainda como grande instrumento gerador de excedentes. O investimento em Pesquisa & Desenvolvimento (P&D) na Ásia e a subsequente expansão de patentes e exportações mais sofisticadas são boas provas de tal evolução.

Hoje a China já investe 2% de seu PIB em P&D, o Japão 3% e a Coreia do Sul 4% (o Brasil despende apenas 1%). Com essa importante base de capitais e conhecimentos alcançados, os países asiáticos encontram-se em melhor posição para moldar seu próprio futuro.

Nessa dinâmica, a grande extroversão chinesa ora em curso aproxima o país das experiências de Japão e Coreia do Sul.

Já outras nações da região, como Índia, Indonésia e Vietnã, passaram a crescer em moldes cada vez mais semelhantes aos que possibilitaram a grande arremetida chinesa. É dizer, convertem-se em "LCCs" (sigla em inglês para países de baixo custo) orientados às exportações.

Seja em sua versão mais rudimentar, seja na modalidade de maior valor agregado, o Modelo Asiático permanece —às vezes com enorme sacrifício sociopolítico— como a "fórmula aproximada" que mais produziu milagres econômicos nas últimas décadas.

Folha de São Paulo - 09/08/2017