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Rosa Maria Custódio - (Julho/2010)
AFIZ SADI - (AMIZADE PERENE)

Conheci Dr. Afiz Sadi e Prof. Adolfo Lemes Gilioli, através de Costa Carregosa. Aos dois ilustres Acadêmicos sou grata pela oportunidade de fazer parte da Academia Cristã de Letras, onde ocupo a cadeira número 30, cujo patrono é Rodrigues de Abreu e cujo antecessor foi o médico e poeta Hugo Beolchi Júnior.

Dr. Afiz Sadi, juntamente com Dr. Helio Begliomini, colaboraram com informações importantes sobre meu antecessor, na época em que preparava meu discurso de posse. E, através da Sra. Sonia Palma Beolchi, tomei conhecimento do discurso que seu marido escreveu para apresentar o nosso querido Acadêmico Afiz Sadi, na noite de sua posse na Academia Cristã de Letras, em 1982.

Compartilho com os nobres Confrades alguns trechos daquele brilhante discurso que saudou Afiz Sadi, o Acadêmico Imortal que hoje faz versos em planos mais sutis e elevados:

(...) Batista Pereira, ao tentar aferir a vida de Ruy Barbosa, estupefato, somente pode escrever iniciando seu trabalho: - “Ruy é um mundo.”

O que poderia eu dizer da vossa vida, Acadêmico Afiz Sadi, senão o mesmo, numa admiração comovente e profunda? - “Afiz Sadi é um mundo.”¬

(...) O vosso Memorial é uma enciclopédia de 263 páginas até 1980. Nunca será demais ressaltar que cada capítulo, desde a identificação, formação, vida universitária, atividades didáticas, organização, coordenação e ministração de cursos em quase todas as faculdades do país, assombra e envaidece a Medicina!

São jornadas, simpósios, seminários, mesas redondas, reuniões, discussões de casos, às centenas, numa luminosa profusão de sucessos. Conferências, palestras teses, trabalhos científicos, comunicações, pesquisas, congressos nacionais e internacionais, bancas e comissões organizadoras de concursos de doutoramento, livre-docência e de cátedras. Colaboração e participação em conselhos consultivos e editoriais de revistas. Tendes títulos e homenagens e distinções em tal número, que vos cobriríamos dos pés à cabeça de uma avalanche de glórias!

Publicastes seis vastíssimas obras de ensino, com milhares de páginas da especialidade. (...) Desvanece-nos dizer: “Professor Afiz Sadi, não conquistastes mais louros e triunfos porque não mais haviam para conquistar”. (...) Como médico de todos os dias, sois um exemplo de dedicação, e sabeis e ensinais porque viveis, que a medicina é amor, e como amor é sacrifício, exigindo tolerância e ternura. Sem esses atributos, como entender a sua grandeza? Ah! Tempo de hoje, duro como o aço, construindo um novo esculápio, denegrido e aviltado, que quase não consegue interpenetrar a dor alheia, por estar isento da magia das coisas da alma!

Poeta Afiz Sadi, que estranha e profunda sensibilidade evola dos vossos versos. Não vim para críticas literárias, pobre de mim; faltam-me os recursos e os talentos. Os Álvaros Lins e os Agripinos Griecos de hoje, ficaram embevecidos por vossas composições e as declamam até.

Em “Ritmos e Semitons”, nascido em 1970, vosso livro de estreia, encontramo-nos com uma coletânea de lirismo, trescalando a mansidão da sua alma, com acentos de uma angústia sem desnivelamento emocional.

Em “Poesia e Vários Tons”, editado em 1971, as suas poesias são rosas, e o livro um roseiral de chiraz! São versos de amor, de elegia à esposa e à mãe, expondo uma vitrine de fino lavor artístico. É um Afiz filosófico, embebido de uma ardente acentuação interrogativa.

Em “Ritmo e poesia”, vindo à luz em 1979, com um prefácio esplendoroso do Prof. Carvalhal Ribas, o poeta atinge um modernismo não hermético. Revive suas angústias e divagações, deixando sempre o traço da infinita aceitação do destino. (...)

Escutai os cânticos da paz e entendei a linguagem dos pássaros nos ramos dos sicômoros.

Entrai, vinde ter com vosso patrono, o poeta Gibran Kahlil Gibran, que tanto amou a vida, a poesia e o deslumbrante Líbano dos cedros eternos. Lá, o Nazareno pregou parábolas olhando o céu e abençoando a terra, onde fez o milagre do vinho! Abençoou as águas do rio Orontes, as criancinhas e os aflitos. Com a mesma água vos abençoa, Poeta Afiz Sadi!

Passaram-se 28 anos, desde o dia em que o Poeta Afiz Sadi foi abençoado com as águas do rio Orontes e irmanado na Casa de Letras de São Francisco de Assis. Desde 1982, ele engrandeceu e presidiu (por duas gestões - de 1988 até 1991) a Academia Cristã de Letras, dando o melhor de si, de sua experiência, conhecimento, sabedoria e arte. Agora, já não está mais entre nós, no plano físico...

Em 2008, Dr. Afiz Sadi, ao autografar-nos seu último livro de poesias, Correr do Tempo, escreveu: “Aos amigos Costa Carregosa e Rosa Maria, uma lembrança e a certeza de uma amizade perene.” As palavras precisas, generosas e sábias de Afiz Sadi - homem ilustre, médico notável, acadêmico proficiente, escritor talentoso, poeta inspirado e, principalmente, amigo inesquecível – estão gravadas, para sempre, em nossos corações e mentes.
Seus primeiros versos, na página 13, refletem sua compreensão sobre o intangível significado da palavra “eternidade”:

“A eternidade, não é
como o voo do pássaro,
mas como o pássaro no voo,
que voa, voa, voa,
para nunca mais voar.”

O poeta Afiz Sadi lapidou seus versos no Correr do Tempo e entendeu que a eternidade está no voo absoluto, no ato infinito de voar, onde não existe o antes nem o depois, apenas o momento pleno de ação, conjugado no presente, por ser um atributo divino e expressar a transcendência. A poesia, pois, é o voo que eterniza o poeta.

Agora, como o pássaro, ele voa na eternidade, enquanto nós, agraciados com sua amizade perene, nos reunimos neste sodalício, para prestamos nossa justa e sincera homenagem. A saudade ainda machuca nossos corações que, envolvidos com as lides terrenas, almejam a imortalidade da matéria. Mas a matéria é apenas um ciclo da vida. Aqui estamos para aprender a voar, transcender. Com a nossa prosa e nossa poesia, ensaiamos e alimentamos o sonho de voar, voar, voar.

Irmanados nos ensinamentos do patrono desta Casa de Letras - São Francisco de Assis – tão bem expressos na sua Oração da Paz, reunimos nossas forças e ensaiamos o voo da redenção: aquele que nos levará à vida eterna, onde encontraremos os amigos que lá estão a voar, voar, voar.