Sou o que sobrou.
Luz sem brilho. Música sem estribilho. A voz perdida no além.
Rastros apagados. Pendores agoniados. De preces sem amém.
Sou alma ao relento. A lamúria do vento. Começo sem preâmbulo.
O destino inibido! Coração exaurido! E o pensamento sonâmbulo.
Sou a efeméride esquecida! A certeza diluída! A cicatriz do orvalho!
No silêncio oculto! O condenado estulto! Dos caminhos sem atalho!
Fiapo de nódoa eu sou. Retalho que sobrou! Do leito desfeito o véu!
Viajante atávico! Peregrino sem viático! A solidão marchando ao léu.
Enfim: sou o sem mim. Da dança – fugaz lembrança! Porvir rarefeito!
A vítima inodora. O espírito que chora. Um refém do amor desfeito!