(Palestra do Acadêmico Bolívar Lamounier sobre a Atual Conjuntura Econômica e Política do Brasil)
Estiveram presentes ao Almoço promovido pela Academia Paulista de História, no dia 26 de abril de 2018, no Buffet Palace (Av. Brigadeiro Faria Lima, 1912, conjunto 209 – 1º andar) membros da Academia Paulista de História (Luiz Gonzaga Bertelli, Maria Cecília Naclério Homem, Agostinho Toffoli Tavolaro, Antônio Fernando Costella, Alzira Lobo de Arruda Campos, Geraldo Nunes Silva, João Natale), Academia Paulista de Letras (Bolívar Lamounier), Academia Paulista de Educação (João Gualberto de Carvalho Meneses), Academia Campinense de Letras (Geraldo Afonso Muzzi, Jorge Alves de Lima) e Academia Cristã de Letras (Rosa Maria Custódio), além de outros convidados (Ana Luiza S. Bertelli, Edna Tupinambá, Leda Costella, Lenilde De Leone e Loretana Paolieri Pancera).
O acadêmico Luiz Gonzaga Bertelli (presidente da Academia Paulista de História, membro da Academia Paulista de Letras Jurídicas e da Academia Cristã de Letras), grande incentivador desses encontros que contribuem para a troca de conhecimento e desenvolvimento das ideias, introduziu o tema da palestra Atual Conjuntura Econômica e Política do Brasil:
Dr. Bertelli apontou a histórica disparidade brasileira, onde os 5% mais ricos da nossa população detém a mesma fatia de renda que os outros 95%, conforme as estatísticas da ONU. Os resultados perversos dessa desigualdade aparecem no separatismo entre os estados brasileiros, o racismo, a xenofobia, a corrupção e a violência. E enfatizou a necessidade de se adotar um programa de desenvolvimento econômico acompanhado da justiça social. Também abordou a questão das eleições que se aproximam, onde 146 milhões de pessoas vão votar sem saber ao certo quais serão os candidatos.
Antes de passar a palavra ao Acadêmico e Professor Bolívar Lamounier, palestrante convidado para este encontro, Dr. Bertelli apresentou seu currículo (ver seu pronunciamento, logo abaixo), que aqui resumimos: atual diretor-presidente da Augurium; Bacharel em Sociologia e Política pela UFMG (1964); Ph.D. em Ciência Política pela Universidade da Califórnia, Los Angeles (1974). É assessor acadêmico do Clube de Madri, entidade criada em outubro de 2002, integrada por ex-presidentes e primeiros-ministros, com o objetivo de desenvolver esforços internacionais de apoio à democracia. Foi eleito para a Academia Paulista de Letras em 1997 e para a Academia Brasileira de Ciências em 2013.
O palestrante discorreu sobre o atual cenário econômico e político brasileiro e aqui anotamos alguns de seus pensamentos e ideias:
A vida pública brasileira passa por uma situação difícil, que pode ficar ainda pior, dependendo do resultado das próximas eleições. A História nos mostra que é fácil destruir aquilo que levou tempo para ser construído e foi isso que aconteceu no governo de Lula e Dilma Rousseff, com seus erros na condução da economia e dos negócios do Estado brasileiro. A equipe de Temer conseguiu evitar que a situação piorasse, aprovando alguns projetos importantes no Congresso Nacional, mas não conseguiu aprovar a Reforma da Previdência, importante para administrar a grave questão fiscal. Os prognósticos mais positivos, para os próximos quatro anos, indicam um crescimento anual medíocre do PIB, em torno de 2%. Enquanto que a dívida bruta do setor público pode chegar a 90% em 2021.
O Brasil enfrenta sérios problemas: a escalada espantosa da corrupção no sistema político, que já não cumpre o seu papel e praticamente desagregou a organização partidária; os conflitos entre o Supremo Tribunal Federal, intervencionista e dividido internamente, e a Lava Jato que combate a corrupção; o Partido dos Trabalhadores e o Lulismo, entidades políticas de nossa história democrática, que atuam de forma ambígua e de acordo com suas conveniências, que incentivam o rancor entre as classes e a erosão das normas do convívio social. E por último, as eleições que se aproximam: não há ameaças diretas ao regime democrático, pois as forças políticas procuram se manter dentro dele para atingir seus objetivos particulares. Mas existem, sim, ameaças ao Estado brasileiro e a mais grave é o fato de altas autoridades institucionais se comportarem em discordância com suas funções.
Após a brilhante palestra pronunciada pelo Prof. Bolívar Lamounier, seguiu-se um debate, onde os participantes tiveram a oportunidade de formular perguntas e expressar suas opiniões. Isso tudo em um ambiente amistoso, degustando um bom vinho e a deliciosa refeição, servidos pelos atenciosos atendentes do Buffet Palace.
Agradecemos e parabenizamos o presidente da Academia Paulista de História, Dr. Luiz Gonzaga Bertelli, por esta aprazível e inspiradora iniciativa.
Pronunciamento do acadêmico Luiz Gonzaga Bertelli,
presidente da Academia Paulista de História – APH, na palestra do Acadêmico Bolívar Lamounier, em 26.04.2018.
Quando se examina a atual conjuntura socioeconômica do nosso País, verificamos a histórica disparidade brasileira. Nos dias atuais, apenas os 5% mais ricos da nossa população detém a mesma fatia de renda que os outros 95%, conforme as estatísticas da ONU. Com efeito, as oportunidades para os brasileiros continuam desigualmente distribuídas.
É evidente que os efeitos da desigualdade são perversos e nefastos, eis que a desigualdade traz consigo o separatismo entre os estados brasileiros; o racismo; a xenofobia; a corrupção e a violência. Ademais, ameaça seriamente a democracia ao estimular o aparecimento de pseudos líderes, que exploram, criminalmente, as camadas menos favorecidas dos brasileiros.
O grande desafio que se apresenta à população brasileira, é a imprescindibilidade da adoção de um programa de desenvolvimento econômico, acompanhado da justiça social. Hoje, há no Brasil mais de 52 milhões de pessoas, mergulhadas na extrema pobreza, com rendimento inferior a US$ 5,50 por dia em torno R$ 20 diários. No entanto, em 2017, ano passado, o Brasil ganhou 12 novos bilionários. Agora, teríamos 43 bilionários ao todo, consoante o levantamento da Federação do Comércio do Estado de São Paulo.
No nosso País, um assalariado que recebe o piso de R$ 937 em 2017, teria que trabalhar 19 anos seguidos, para equiparar os seus rendimentos aos dos bilionários – 0,1% da população. Com esse panorama de absoluta desigualdade, na América Latina, o Brasil fica atrás de Honduras e Colômbia. Para alcançar o nível de desigualdade social da Argentina, levaríamos 31 anos; com o México 11 anos e Reino Unido, 75 anos.
As eleições de 2018 estão perto, a poucos meses do primeiro turno. Contudo, não temos, ainda, a certeza de quem serão os nossos candidatos. 146 milhões de brasileiros irão votar.
Em recente editorial, publicado no jornal “O Estado de São Paulo”, o Prof. Bolívar Lamounier, conferencista desta reunião, declara que a próxima eleição presidencial e seus efeitos na recuperação econômica do País pode contribuir para, em 2019, melhorar ou piorar muito a mencionada recuperação econômica do País.
Nas próximas eleições, dos eleitores: 53% serão mulheres e 47% homens. Contudo, 4% são analfabetos e 26% têm o ensino fundamental incompleto. O ministro Luiz Fux, presidente do TSE, prevê uma eleição especial e desafiadora.
Pois bem, minhas queridas acadêmicas, acadêmicos e amigos, que nos honram com a sua gentil presença neste almoço de confraternização da Academia Paulista de História (APH).
A fim de recebermos as considerações, no tocante ao mencionado e a propósito de outros temas de relevância da economia, da política e do desenvolvimento nacional, contamos, hoje, com a honrosa presença do destacado professor, Bolívar Lamounier. A fim de que todos conheçam, mais ainda, o extraordinário perfil do conferencista, vamos apresentar um breve currículo.
BOLÍVAR LAMOUNIER é o atual diretor-presidente da Augurium. Bacharel em Sociologia e Política pela UFMG (1964) e Ph.D. em Ciência Política pela Universidade da Califórnia, Los Angeles (1974). Integrou a Comissão de Estudos Constitucionais (“Comissão Afonso Arinos") nomeada pela Presidência da República, em 1985, para preparar o anteprojeto da atual Constituição. Presidiu o Conselho Diretor do CESOP - Centro de Estudos de Opinião Pública da Universidade de Campinas, de 1993 a 1999. É atualmente assessor acadêmico do Clube de Madri, entidade criada em outubro de 2002, integrada por ex-presidentes e primeiros-ministros, com o objetivo de desenvolver esforços internacionais de apoio à democracia. Escreve frequentemente para os mais importantes veículos da imprensa brasileira. Foi eleito para a Academia Paulista de Letras em 1997 e para a Academia Brasileira de Ciências em 2013. É autor de numerosos estudos de Ciência Política publicados no Brasil e no exterior, entre os quais destacamos:
1) Os partidos e as eleições no Brasil - Editora Paz e Terra, 1975 -, em coautoria com Fernando Henrique Cardoso.
2) Da Independência a Lula: dois séculos de política brasileira - Augurium Editora, 2005.
3) A classe média brasileira – valores, ambições e projetos de sociedade - Editora Campus-Elsevier, 2010 -, em coautoria com Amaury de Souza.
4) Tribunos, profetas e sacerdotes: intelectuais e ideologias no século 20 - Companhia das Letras, 2014.
5) Liberais e Antiliberais – A luta ideológica do nosso tempo - Companhia das Letras, 2016.
Vamos, portanto, ouvir com muita atenção a conferência e os ensinamentos do ilustre acadêmico, mestre e cientista político, Bolívar Lamounier.