Geraldo Nunes
“Cinquenta homicídios neste final de semana!” Brada ao microfone o repórter que entra no ar ao vivo direto da Sala de Imprensa da Polícia Militar. Na chamada seguinte, sua notícia aborda as trombadas do trânsito e a prisão de trombadões nas ruas do centro porque assim como a cidade, a polícia não para. O atendimento é 24 horas, o telefone 190 do Centro de Operações da Polícia Militar – Copom, recebe cerca de 50 mil ligações por dia só na capital paulista e para os repórteres há informações sobre quase tudo, basta estar ligado naquilo que chega à Sala de Imprensa.
Como nada escapa ao furor jornalístico de um setorista no Copom, é preciso selecionar entre o que há de mais importante nos relatórios das rondas que saem na captura dos assaltantes, estejam onde estiverem. Acontece algumas vezes de o policial prender e o delegado soltar alegando falta de provas. Isso dá uma raiva danada tanto no repórter quanto no policial das ruas. São contradições do cotidiano existentes aos montes nesta São Paulo que tem a Favela Paraisópolis em frente aos ricos apartamentos do Portal do Morumbi. A Pauliceia, antes desvairada, segue cada vez mais violenta porque em todos os lugares, na periferia ou nos jardins, há pessoas cheias de pensamentos vazios.
Ocorrências não faltam, é a moça que ameaçou se jogar do prédio e foi contida pela policial de plantão, o atendimento que salva da morte a vítima resgatada pelo helicóptero. Tudo isso é feito pela polícia fardada que também presta assistência a parturientes e realiza diversos outros auxílios à comunidade, assim como dentro e fora de campo nos estádios de futebol, age para impedir brigas entre as torcidas organizadas.
Mas quando alguma coisa não dá certo a culpa sempre sobra para a polícia, ou porque não chegou a tempo e deixou o bandido fugir ou porque foi violenta demais. Outra culpada é a imprensa porque elucida errado determinados fatos ou carrega nas letras. Todo repórter, por isso mesmo, precisa ser um pouco policial de si próprio para não cometer deslises. Nada de enaltecer em demasia e nem causar alarde. Informar apenas o necessário e com moderação. Às vezes sem querer “machucamos” pessoas. Nesse aspecto Polícia Militar e Imprensa caminham juntas para o bem e para o mal.
Geraldo Nunes, jornalista, escritor e consultor literário, é titular da cadeira 27 da Academia Cristã de Letras - ACL
