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Geraldo Nunes

Curioso em saber a origem da nomenclatura de uma rua do bairro de Vila Mariana, descobri que Morgado de Mateus não é nome de gente, mas de um título nobiliárquico concedido a vários nobres de Portugal, entre os quais um governante da São Paulo colonial

Luís António de Sousa Botelho Mourão, recebeu do rei de Portugal um título de nobreza diferenciado. Em vez de barão, visconde ou marquês, a denominação foi Morgado, tendo por base a transmissão da posse de terras em regime de morgadio, ou seja, uma forma de organização familiar cuja linhagem de sucessores possuía código, estatutos e comportamentos a serem seguidos. Em Lisboa há uma freguesia com o nome Mateus onde foi construído um palácio residencial destinados aos nobres sucessores do morgadio e por consequência Condes de Vila Real.

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O nosso Morgado de Mateus foi o quarto na linhagem de sucessores e viveu entre 1722 e 1798. Ele chegou ao Brasil a pedido do rei de Portugal em 1765 e governou a capitania de São Paulo durante dez anos e sua grande batalha foi a de tentar reverter o quadro de pobreza e abandono em que a capitania se encontrava, após o término da fase das entradas e bandeiras, que fizeram desviar os interesses econômicos para Minas Gerais onde havia ouro. Foi uma fase de penúria na qual especialmente a cidadezinha de Piratininga se viu quase abandonada.

Toda a região sul do Brasil, desde o Paraná até o Prata, se via ameaçada pelo risco de ocupação por parte das colônias de língua castelhana, dominadas pela Espanha. Para modificar essa situação, foi o Morgado de Mateus que organizou e reforçou as defesas, criou também vilas onde hoje estão as cidades de Jacareí e São José dos Campos, além de outras no Vale do Paraíba. Foi também o primeiro a fazer um recenseamento da população para em seguida fomentar a economia.

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Todas essas atividades geraram documentos escritos, como requerimentos, alvarás, avisos, provisões, patentes e cartas de sesmarias, que estão preservados e pertencem ao acervo permanente do Arquivo do Estado, cuja sede se localiza na Avenida Cruzeiro do Sul, na capital paulista.

Confira os nomes de todos os Morgados de Mateus

. António Álvares Coelho, 1.º morgado de Mateus;

. Matias Álvares Mourão, Morgado da Prata (1669-1730), 2.º morgado de Mateus;

. António José Botelho Mourão (1688-1746), 3.º morgado de Mateus;

. Luís António de Sousa Botelho Mourão* (1722-1798), 4.º morgado de Mateus;

. José Maria de Sousa Botelho Mourão e Vasconcelos (1758-1825), 5.º morgado de Mateus;

. José Luís de Sousa Botelho Mourão e Vasconcelos (1785-1855), 6.º morgado de Mateus, 1. ° Conde de Vila Real;

. Fernando de Sousa Botelho Mourão e Vasconcelos (1815-1858), 7.º morgado de Mateus, 2. ° Conde de Vila Real;

. José Luís de Sousa Botelho Mourão e Vasconcelos (1843-1923), 8.º e último morgado de Mateus, 3. ° Conde de Vila Real;

. Fernando de Sousa Botelho e Melo (1870-1928), 4. ° Conde de Vila Real, 3.º Conde de Melo;

. Maria Teresa de Sousa Botelho e Melo (1871-1947), 5. ° Condessa de Vila Real, 4.ª Condessa de Melo, 2.ª Condessa de Mangualde;

. Francisco de Sousa Botelho de Albuquerque (1909-1973), 6. ° Conde de Vila Real, 5.º Conde de Melo, 3.º Conde de Mangualde;

(*) Foi quem governou São Paulo e cujo título nobiliárquico dá nome à rua de Vila Mariana.

Fonte: Arquivo do Estado

Geraldo Nunes, jornalista, escritor e consultor literário, é titular da cadeira 27 da Academia Cristã de Letras - ACL