Frances de Azevedo
Voltando, ontem, (11 de Outubro de 2020), com minha sobrinha Rhaisa, de um passeio, num recanto agradável da cidade de Sorocaba, onde residi há uns três anos atrás, mais exatamente, o Condomínio Ibiti Reserva, ela, num determinado momento de nosso trajeto, me disse: Tia, eu estou lendo sobre o Livro do Perdão, de Desmond Tutu.
A principio, imersa em divagações e saboreando aquela aprazível viagem, permaneci, por alguns segundos, silente e, saindo daqueles breves instantes de torpor me dei conta de que, este ano (2020), estou lançando um livro de poesias, sob o título: Trilogia do Perdão, pela infoarteseditora.com.br, cuja Introdução, assim reza:
Esta obra tem por título: Trilogia do Perdão, poesia que se encontra às Fls. 5.
Qual a razão dessa escolha?!
Perdoar: Segundo os léxicos é: Conceder perdão. Absorver. Desculpar.
Perdão: Remissão de uma culpa, dívida ou pena. Desculpa.
(in Michaelis: Pequeno Dicionário da Língua Portuguesa).
Por sua vez, a palavra grega traduzida como perdoar significa literalmente cancelar ou remir.
Cancelar: Declarar nulo ou sem efeito. Invalidar. Eliminar, excluir.
Remir: Isentar. Livrar. Livrar das penas do inferno; salvar. Tirar do cativeiro; resgatar.
Na Bíblia, in Mateus 6:12, temos que: “ e perdoa-nos as nossas dívidas, assim como nós temos perdoado aos nossos devedores”.
No sentido bíblico, entende-se por perdão o ato pelo qual o ofendido livra o ofensor do pecado, libertando-o da culpa pelo pecado. E... Jesus, ao morrer na cruz, redimiu os nossos pecados.
Ora, essas colocações pouco ou nada significam, à primeira vista, eis que difícil é enfrentarmos o real, o verdadeiro arrependimento. Aquele que há de remir, tirar-nos do cativeiro da culpa, da dor que dilacera a nossa alma, corrói nossas entranhas e dilacera o coração.
Não é assim que nos sentimos quando atingidos?
Será que nesse momento angustioso, de luta íntima tão intensa, infernal, somos capazes de perdoar com sinceridade, sem ser da boca para fora?
Tais questões filosóficas, existenciais, longe estão de ser compreendidas, efetivadas em toda sua plenitude, não é mesmo?!
Assim, quando falo da Trilogia do Perdão, de maneira metafórica, no referido texto poético, ao invés de lembrar as setenta e sete vezes sete do perdão bíblico, resumo nessa Trilogia um triangulo que nos remete à: Paz, Amor e Fraternidade.
O que importa, na verdade, não é essa ou aquela regra, bíblica ou não - aliás, há controvérsias sobre essa - mas sim, o ato, a atitude, o espírito real, sincero que motiva o ofensor...
Assim, caro leitor, quem sabe, com um pouco de poesia, navegando num mar mais tranquilo, possamos amainar os nossos corações e refletirmos sobre o Perdão!
Assim, despiciendo mencionar que minha alegria se deu por dois motivos: O primeiro, já apontado acima; o outro, o de que minha linda sobrinha, num processo de autoconhecimento, estava lendo sobre o PERDÃO, ora grafado em maiúscula, pela relevância do tema no contexto do momento e na esfera familiar. Abriu-se, novamente, a oportunidade para voltar àquele, agora, para abraçar o Arcebispo Desmond Tutu: Ativista dos Direitos Humanos, da África do Sul, Prêmio Nobel da Paz, em 1984, por sua árdua luta contra o Apartheid, o qual escreveu, juntamente com sua filha, a Reverenda Mpho Tutu, O Livro do Perdão. Obra que, certamente, estende as mãos para tirar do marasmo da angústia aqueles que foram ofendidos e que, subjugados pela raiva, vão, num torvelinho, sendo sugados num vórtice louco que não mais os deixam prosseguirem em sua jornada terrena, alegres e felizes.
Perdoar, portanto, é remédio que nos conduz à PAZ!
Bem haja, pois, este bom caminho da leitura, ora encetado por um membro querido de minha família e que ensejou esta crônica.
Frances de Azevedo - Cadeira 39 da ACL