Geraldo Nunes
Na Tertúlia da Saudade, promovida pela Academia Cristã de Letras, em 16 de maio de 2023, falamos de nossas lembranças a respeito do Dr. Duílio Crispim Farina, um dos nossos antecessores na cadeira 27 deste majestoso sodalício. Na ocasião, citamos que o Dr. Duílio, falecido em 2003, guardou em sua casa até o final da vida, uma imagem em miniatura de Santo Elesbão, muito venerado pelos escravos da São Paulo do século XIX.
Santo Elesbão é um santo negro da Etiópia, cultuado na Igreja do Rosário dos Homens Pretos, localizada onde agora está a Praça Antônio Prado, no coração do centro velho, cuja demolição se deu no ano de 1904. Esta paróquia se transferiu para o Largo do Paissandu, mas Santo Elisão não seguiu com ela.
A história deste santo, rei no país onde viveu durante o século VI, era católico e foi contemporâneo do imperador romano Justiniano, muito estimado pelos seus súditos, pois este permitiu a propagação da fé cristã. No reino vizinho ao da Etiópia, formado por hameritas, Dunaan era o rei e este, renegou a fé cristã por ter se convertido ao judaísmo. Na ocasião, mandou matar todos os integrantes do clero e transformou as igrejas católicas em sinagogas e se tornou famoso em seu tempo pelo ódio declarado aos cristãos.
Tais motivos levaram o arcebispo Tonfar e uma multidão de fiéis a buscar refúgio e proteção nas terras da Etiópia do rei Elesbão. Até mesmo a esposa de Dunaan foi morta por ele, juntamente com as filhas, por serem cristãs. Os registros indicam que houve um verdadeiro massacre no qual foram mortos mais de quatro mil devotos do cristianismo.
Elesbão reagiu contra aquela matança imposta aos irmãos católicos e declarou guerra à Dunaan. Ao liderar seu povo na fé e na luta, Elesbão ganhou a guerra e o país vizinho passou a ser governado pelo rei Ariato, um cristão fervoroso.
Mas Elesbão, chocado com os acontecimentos da guerra, iniciou uma outra batalha ainda maior, além daquela travada contra o inimigo. Depois de um período de profunda oração e penitência, abdicou do trono em favor do filho, seu sucessor natural, e dividiu seus tesouros entre os súditos pobres. Em seguida, Elesbão partiu para Jerusalém onde depositou sua coroa real na igreja do Santo Sepulcro e retirou-se para o deserto, onde passou a viver como monge anacoreta até morrer em 555.
No Brasil, através dos escravizados, a devoção por Santo Elesbão, o rei negro da Etiópia, foi difundida até o período da abolição. Sua festa ainda é celebrada no mundo cristão do Oriente, em 27 de outubro, o dia de sua morte.
*Fontes: Arquidiocese de São Paulo e Pia Sociedade Filhas de São Paulo Paulinas http://www.paulinas.org.br
Geraldo Nunes, jornalista e escritor, ocupa a cadeira 27 da Academia Cristã de Letras - ACL