Raquel Naveira
O mundo está em guerra. Ferve como um caldeirão sob as chamas da destruição, do triunfo da força cega, dos poderes diabólicos das trevas. Como defender a vida, restabelecer a justiça e a harmonia? Onde estarão vibrando as antigas espadas mágicas, feitas da madeira dos pessegueiros? Os soldados brilhando nas suas armaduras, buscando a honra da morte em combate? Quantas vítimas serão sacrificadas para aplacar tamanho ardor, tamanha fúria?
A situação geopolítica é tensa. O mundo corre o risco de afundar: guerras civis internas, intestinas, em países como a Síria, Sudão e Mali. A Rússia abrindo fogo sobre a Ucrânia num conflito sem fim, de posse coagida. Os terroristas do Hamas matando e levando cativos para os túneis centenas de reféns israelenses e de outras nacionalidades. Israel revidando com bombardeios e mísseis sobre a faixa de Gaza. Corpos famintos, esquálidos, esquartejados, espalhados por todo Oriente Médio. Mas há ainda o continente africano. O Congo, a Etiópia, o Iêmen... Custos globais incalculáveis, rebeliões envoltas em petróleo e gás tóxico, risco de fechamento de passagens marítimas, ataques súbitos e velozes nas noites de terror. O ludibrio e o engano grassando por toda parte.
Tudo isso me fez lembrar do mestre e filósofo chinês Sun Tzu (544 a.C-496 a. C), autor do tratado militar “A Arte da Guerra”. Sun Tzu viveu entre as Primaveras e Outonos da China, no período dos Reinos Combatentes. Foi general a serviço do rei Hu Lu, do estado de Wu. As suas inúmeras conquistas inspiraram-no a escrever sobre como vencer batalhas e gerir contendas nas guerras. Ele se reconhecia como um general perfeito, um taoísta iluminado. Seus conceitos abrangiam planejamento, astúcia, diplomacia e bom relacionamento com outros povos. O livro influenciou muitas figuras históricas, desde os samurais japoneses, o líder comunista Mao Tsé-Tung até o Departamento do Exército dos Estados Unidos, que ordenou a todas as unidades que tivessem o livro em suas bibliotecas.
Nas máximas de “A Arte da Guerra”, encontramos lições que são chaves não apenas para as guerras exteriores, mas para aquelas que o homem trava em si mesmo. A passagem da ignorância para o conhecimento. A visão de uma alta concentração só obtida no silêncio e no isolamento das florestas.
Seguem alguns de seus pensamentos: “A invencibilidade está na defesa; a possibilidade de vitória, no ataque”; “Se você conhece o inimigo e conhece a si mesmo, não precisa temer o resultado de cem batalhas. Se você se conhece, mas não conhece o inimigo, para cada vitória ganha sofrerá também uma derrota. Se você não conhece nem o inimigo, nem a si mesmo, perderá todas as batalhas; “As oportunidades multiplicam-se à medida que são agarradas”; “Não é preciso ter olhos abertos para ver o sol nem é preciso ter ouvidos afiados para ouvir o trovão. Para ser vitorioso você precisa ver o que não está visível”; “Um soberano jamais deve colocar em ação um exército motivado pela raiva; um líder jamais deve iniciar uma guerra motivado pela ira”; “Triunfam aqueles que sabem quando lutar e quando esperar.”
Percebemos assim que a guerra entre o bem e o mal é uma realidade ao mesmo tempo física e espiritual. A confrontação do embate de forças antagônicas na própria mente do homem. Energias inteligentes e malignas influenciam assuntos humanos. Duelos acontecem em momentos dramáticos e cotidianos. Há que se ter compreensão de como o inimigo ataca e preparação para enfrentá-lo. Vigilância sobre as torres, revestimentos peitorais, resistência às tentações e raciocínios negativos e perversos. Nos campos de batalha as decisões são tomadas e atingem regiões celestiais, cheias de nuvens, fumaça e mistério.
Vivemos num mundo de aparências e ilusões, onde a guerra é calamidade universal. Essa consciência é que nos torna guerreiros da luz.