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Di Bonetti

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Há quem espere datas comemorativas para lembrar que o mundo precisa de delicadeza.
Eu, não. Para mim, gentileza não tem dia marcado — ela vive escondida na dobra de pequenas atitudes que costuram o cotidiano.

Outro dia, no saguão do prédio, testemunhei uma cena aparentemente banal — e talvez por isso mesmo, tão reveladora. O elevador chegou, a porta abriu, e alguém apertou o botão para que ela se fechasse rápido… apesar de saber que uma pessoa vinha a passos apressados pelo corredor.
Não é falta de tempo.
É falta de olho no outro, de presença, de humanidade.

São gestos assim, tão miúdos e tão barulhentos, que escancaram o quanto estamos carentes de educação e gentileza.

Mas a gentileza existe — e é poderosa.

Ela está em segurar a porta do elevador, sim, mas também em segurar a vida do outro por um segundo, e com isso dizer silenciosamente:

“Eu te vejo.”

Está também nas delicadezas que não se anunciam, mas transformam. Como quando desligo o telefone depois de falar com aquelas(es) amigas(os) de mais de vinte anos — irmãs e irmãos escolhidas pela caminhada — e me despeço com um “Amiga querida, amigo querido, eu te amo.”
É simples, é rápido, mas transborda afeto. Há despedidas que abraçam, mesmo sem braços.

Outro exemplo recente: conversava ao celular com minha Confreira da Academia Cristã de Letras, Frances, e ao final ela me disse:
“Di, eu te amo.”
Me pegou de surpresa — dessas boas surpresas que aquecem — e me emocionou profundamente. Que gesto gostoso, generoso, verdadeiro.

E digo mais: na Academia Cristã de Letras, onde ocupo a Cadeira nº 24, cujo Patrono é Paulo Setúbal, existe uma harmonia contagiante.
Quando nos reunimos, deixamos o ego no jardim, tomando ar fresco, e nos portamos como irmãos nas letras. É um ambiente onde o respeito não precisa ser ensinado — ele é vivido. Somos todos gentis.

A gentileza também mora na rua. Quando saio para passear com o cachorro, distribuo “bom dia!” sorridentes para desconhecidos. Não importa se nunca vi aquela pessoa — o sorriso dela volta para mim como se a gente se reconhecesse desde sempre.
O cachorro abana o rabo; eu abano a alma.

E é nisso que acredito:

Pequenos gestos mudam o dia de alguém, e às vezes até o rumo de uma vida.

Não precisamos de campanhas, faixas ou calendários.
Precisamos apenas de um pouco mais de atenção ao outro…
e de um coração disposto.

Porque o mundo anda cansado de durezas.
Mas nunca — jamais — cansará de gentilezas.

E elas, sim, deveriam ser diárias, como um hábito, como um exercício silencioso de boa educação que se espalha, se multiplica e transforma.

Gentileza pra mim não tem dia.
Tem gesto.
Tem alma.
E tem todo sentido

 

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