Qual a fúria das águas de um rio agitado, de inclemência atroz e incessante, que, no extremo das incertezas de seu curso, impostas pela tirania dos penhascos de aclives e impiedosos vãos, seguem atiradas violentamente em cachoeiras sombrias, com impetuosidade indômita e irascível, ferindo e destruindo absolutamente tudo, num terrível digladiar entre águas e corpos
por meras razões perdidas na fímbria do insano.
Também, a fúria desta dor incontrolável, que se aninhou sorrateiramente em meu peito, dilacera minh’alma e me alucina a mente.
Torturante, machuca! Machuca e dói! E dói!
E, qual o ímpeto das águas tortuosas, sem a placidez e a serenidade dos remansos, jamais cessa. Não se abranda jamais, pois, na eversiva desventura de sua ausência, privado do conforto sereno do seu colo, inquieto-me! Choro! Imploro! Agonizo!
Desnorteado, na quimérica fantasia dos meus desvairos, clamo por você, suplico por você,
desesperadamente... alucinadamente.
Em vão... pois você já não pode me ouvir.
Não pode me escutar.
E nem poderá retornar... jamais!
Porque, hoje, você é, certamente, a minha mais doce lembrança, toda a intensidade e beleza das cores que um dia refloriu o jardim de minha vida, perfumando-o com gardênias, acácias e jasmins.
Exatamente porque, você foi o único e verdadeiro amor que permeou meus momentos de felicidade.
Por esta razão, nada poderá apagar esta saudade, este sentimento arraigado nas recordações únicas brotadas da plenitude dos momentos que foram só nossos, os quais, qual a leveza da brisa matinal, acalentaram todo meu bem-querer e minha paz... para depois... depois você partir... definitivamente!
Partir de minha vida... e, de sua vida.
E hoje, reluzindo, bem lá no alto do azul infinito, você é, dentre todas, a estrela mais cintilante nos céus dos meus pretéritos sonhos imorredouros.
Você é, simplesmente, este inaceitável vácuo de ausência que tumultua meus ideais e minhas fantasias e só deixa a certeza da ambivalência entre a insignificância e a grandeza do ser.
E, por isso, impotente aos desígnios da vida, desespero-me neste meu tempo de provação, porque ainda sinto sua aura... sua presença... sua luz...
E você! Você, por Deus todo poderoso, simplesmente, já não está mais aqui!
Em seu lugar, esta saudade inclemente que não me abandona jamais.