Geraldo Nunes
Ayrton Senna já havia conquistado o terceiro título mundial na Fórmula 1 quando o conheci. A cada término de corrida na Europa, embarcava no dia seguinte em seu jatinho particular rumo ao Brasil para cuidar de negócios. Aqui, além de carros esportivos, era dono de um helicóptero modelo Esquilo e de um bimotor King Air que o levava com seus familiares para Angra dos Reis em uma luxuosa casa de praia.
Como as aeronaves ficavam guardadas no Campo de Marte em um hangar vizinho de onde ficava o helicóptero, no qual embarcávamos todas as manhãs, para noticiar o trânsito pela Rádio Eldorado, bastava vê-las no pátio para concluir que o Ayrton estava em São Paulo.
Quando isso acontecia, depois do meu voo, ficava aguardando por ele para poder entrevistá-lo. Ao me ver reclamava, dizia que estava com pressa, mas nunca se negou a dizer algumas palavras, fiz curtas entrevistas com ele várias vezes. Um minuto do Ayrton Senna comigo no ar, me garantia a reprise da reportagem durante toda a programação da rádio pelo restante do dia e aquilo me deixava imensamente feliz.
Foi um privilégio que poucos repórteres tiveram, desfrutar da presença e das palavras de Ayrton Senna ditas com exclusividade à nossa emissora. Após o acidente fatal em Ímola, há 30 anos, a Rede Globo demorava a confirmar a notícia inevitável. Como estava de folga naquele domingo, 1º de maio de 1994, liguei o rádio e ouvi pela Eldorado que transmitia da Itália, a voz do repórter Mário Andrada e Silva noticiar o trágico resultado. Então comecei a chorar e passei vários dias comovido.
Até hoje foi a única personalidade que me levou às lágrimas após saber de sua morte. Ainda não me conformo, todas as vezes em que ouço a trilha sonora que ilustrava suas vitórias, me vem as lembranças daquela linda e triste manhã de muito sol e choro novamente, é sério! Ayrton faz falta!
Foto: Valeu Senna
Geraldo Nunes, jornalista e escritor também foi repórter aéreo e na Academia Cristã de Letras – ACL, ocupa a cadeira 27.