Márcia Etelli Coelho
Por um bom tempo, eu vivia tranquila.
O meu lar era pequeno, mas aconchegante e eu tinha tudo o que precisava sem ao menos pedir.
Todo o dia, uma voz bonita me dizia palavras suaves que faziam me sentir bem-vinda e que ali realmente era o meu lugar.
Um carinho sempre me tranquilizava.
E eu pensei que ficaria ali para sempre.
Mas certo dia, nem sei explicar como nem porquê, fui invadida.
Sacudida, empurrada, sufocada.
Uma onda me empurrava para frente. E o que antes me protegia se transformou em um corredor, longo, que parecia não ter fim.
Que corredor era aquele que de repente surgia à minha frente?
Uma luz forte me ofuscava.
Tudo estava muito estranho.
Até mesmo aquela voz suave e bonita que me acalmava, agora gritava.
Seria comigo?
Tentei resistir ao máximo. Pressentia que se eu saísse dali, nunca mais retornaria.
Um puxão, porém, me expulsou do aconchego e, pela primeira vez, senti medo.
Muito medo.
Não sabia o que fazer. Então... Comecei a chorar.
Alguém me segurou forte em meio a muitos sons que só depois iria descobrir serem risos intercalados com lágrimas.
E eu chorava, sem parar.
Até que me vi em um outro tipo de aconchego, mais quentinho, mais seco, mais ritmado.
E uma voz, suave e bonita, a mesma que eu já conhecia, novamente me acalmou.
Somente muito tempo depois eu iria compreender que, o que parecia ser o fim, era, na realidade, o começo.
Aconteceu em 03 de maio.
Foi quando eu nasci.