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- Reinaldo Bressani -

Em noite de lua cheia e céu adverso, a dança das nuvens faz a Lua brincar de esconde-esconde pelos céus escurecidos.lua 6d457

Esquiva, sobre tenebroso manto que arrasta a bruma ao sabor dos ventos, ela, a Lua, busca espaços abertos nessa dança -

- dança de voos cegos e de incertos destinos -, a fim de lançar-se indômita – ainda que, já no limiar do alvorecer -

sobre o exótico cântico dos amores. Amores desnudados aos folguedos da paixão que aviva a alma e rebrilha a vida quais as águas translúcidas de um lago sereno, ao luar, espelham a própria grandeza da Lua.

Gentil sopro de brisa adocicada a enlear-nos pela amenidade do romantismo desejado por todos. Quiçá, o próprio cio da preservação humana. Mas também, a fim de lançar-se, de igual maneira, sobre a tormentosa solidão das alcovas vazias refletidas no sôfrego e doído pranto - incontidamente derramado nos cetins que já não confortam.

Oh! céus. Oh! destino cruel. Ainda ontem, estava eu, sob o claro intenso da lua-cheia, flutuando feliz nas ondas de uma paixão fremente, em uma entrega viçosa e cristalina, ditoso pelas travessuras dos prazeres e dos gozos, num templo de existência perfumada.

De repente, emudece a alegria. Estremece o encanto. Esvai-se o perfume. Já não sinto aquele doce aroma no ar. Nem vejo as pegadas na areia. Não há traços ou rastros. Sequer braços para abraçar. A penumbra insensível, lentamente, joga meu olhar na escuridão lancinante. E, em vão, lanço passos incertos em direção do nada.

Aos poucos, caio na realidade atroz que valseia no soluço da saudade inclemente, arremetendo-me na pálida invernia da solidão.

Arquejante, abatido, impotente, eu grito, choro, lamento, desespero. Em vão. Afinal, o infortúnio é minha sina; a solidão, companheira; a lágrima, marca esculpida no meu rosto; e o sorriso, pálida lembrança de momentos felizes.

E, qual a Lua, em noite de ventos tenebrosos que obscurecem seu esplendor, eu tento, desesperadamente, vislumbrar ao menos uma fresta de luz no fim do túnel, pela qual eu possa, novamente, alçar revoos à vida e à felicidade.