A comadre ANA, viúva recente do saudoso Jorge, por necessidade e sustento de dois rebentos pequenos, se socorreu do compadre TONHO, esforçado carreteiro, dono de uma junta de bois usada pra levar cana no arraial da fazenda Pingo D’água.
Condoído da sorte da comadre, Tonho, bom coração, a ajustou como serviçal para ajudá-lo na tarefa do dia a dia.
Bem cedinho lotavam o carro de boi com braçadas de cana caiana e faziam o transporte até a moagem no lugarejo. Lá, seu Felisberto, dono do armazém, cuidava do preparo da garapa e fervia o melado pra servir a freguesia da redondeza. E produzia também a boa cachaça.
O tempo seguia e mês e pouco depois da fauna pesada, Tonho, bom coração, deitou olho gordo na comadre. Ana, morena cor de jambo e pernas grossas, era um convite ao pecado. As coxas, roliças como bananeira lisa... E olhar penetrante, seios volumosos de espantar o sono.
Porém, o compadre não tinha coragem de cantar a comadre. Por respeito. Até que naquela tarde, verão caloroso, ele não se conteve e improvisou uns versinhos. Dirigiu-se aos bois e murmurou baixinho:
“Força Lala/Avante Rochedo/Será que a comadre dá?/Vou pedir... Mas, tenho medo”!
A comadre ouviu, mordeu os lábios e ficou em silêncio. Fingiu não ter escutado.
No outro dia, três e pouco da tarde, os dois suados, voltando da venda do Felisberto, pararam debaixo de um pé de manga coquinho para descansar um pouquinho.
A vaca e o boi deixados a pastar por perto.
Ana, deitada no chão, aproveitou da fresca e cochilou um bocadinho. E Tonho sentiu aquele alvoroço típico de macho. Quando ela acordou e sorriu pra ele, Tonho disfarçou, engatou de novo os animais no carro. E se colocaram a caminho. Uns dez metros mais e Tonho se encheu de coragem e recitou os versinhos: “Força Lala, avante Rochedo, será que a comadre dá, vou pedir... Mas, tenho medo”.
Então, Ana, sem meias e sem peias, falou firme:
“Avante Rochedo/Força Lala/Que o compadre peça sem medo/Que a comadre dá”.
Foi a conta. Logo adiante pararam debaixo de um pé de jataí e... Consumaram o ato iniciado por Eva e Adão em priscas eras!
* Conto adaptado pelo primo do Primo do meu irmão Arlindo!