Fonte: Lázaro Piunti 
Seja idoso, bebê, ou adolescente.
Seja morte natural, a tiro, ou faca.
Um ataque do coração - acidente
Da morte ninguém jamais escapa.
Com estes versinhos inexpressivos quero brindar a todos e todas contando a historinha que ouvi, anos atrás, algures, ou alhures, sei lá.
CONTO ÁRABE!
Salim passeava feliz naquele início de manhã no mercado de Bagdá. De repente, deu de cara com uma figura horrenda. Aparência de mulher, alta e magra, olhar ameaçador, vestido escuro cobrindo o corpo esguio, ela o olhou de alto a baixo. Salim ficou paralisado, cheio de terror. A estranha figura se aproximou falando com voz cavernosa: “ainda estás aqui, criatura? Temos um encontro hoje à noite, vê se não te atrasas”! A seguir ela afastou-se, dobrando a esquina. Era a dona Morte em pessoa! O pobre homem fez xixi nas calças. Depois, ainda tremendo, correu até o castelo pra contar tudo ao mandachuva do lugar. O sultão embrabeceu-se. Quem era a Morte pra vir se intrometer no seu reino? E aterrorizar Salim, seu principal vassalo? Deu-lhe o melhor cavalo da estrebaria aconselhando-o a fuga imediata de Bagdá. “Salim, foge daqui agora. Segue para Samarra e te escondes no meu castelo por um tempo. E deixa que vou me entender com essa megera que ousa ameaçar meus súditos em meu território”. Salim montou no cavalo e saiu a galope, levantando poeira do chão, rumo a Samarra. Grande era a distância a vencer e só chegaria depois do anoitecer ao seu destino. Mustafá, o destemido sultão, reuniu sua guarda pessoal e, todo o séquito armado de cimitarras e punhais, dirigiu-se até o mercado. O grupo avistou, lá ao fundo, a figura pavorosa. Mustafá, sem pestanejar, pois ele era o mandachuva do lugar, partiu em sua direção e, encarando-a, indagou: “Que queres, ó Morte, em meu território”? Ela não respondeu. Olhando-a fixamente, ele continuou: “Com que autoridade tu vens a Bagdá trazer susto a um súdito meu, justamente Salim, meu valete”? Dona Morte cravou agudo olhar no sultão e um calafrio percorreu seu corpanzil chegando à espinha. Então, ela disse, sem pressa, com voz roufenha: “Eu já estou de partida, pois tenho um encontro marcado com Salim, ainda nesta noite, em Samarra”!