O sol se debruçava lá ao longe, no mar. À guisa de despedida, deixava um rastro brilhante e vermelho que, refletindo nas águas, compunha o esplêndido cenário.
Na praia, poucos banhistas.
Repousada numa espreguiçadeira, eu aproveitava a brisa morna do entardecer, naquele lugar incrível, naquela hora derradeira, tão aprazível!
Tudo cooperava para que minhas férias fossem as melhores: o lugar, o tempo, toda a natureza ao derredor!
Resolvi dar uma caminhada. Mas mal acabara de me levantar, quando uma pequena bola resvalou em minha perna. Ao erguer a cabeça deparei-me com duas estrelas azuis fixas em mim.
“Desculpe-me, não tive a intenção...”
“Ah, sim, não tem do quê. Não foi nada... eu...”
A bela e forte figura apanhou a bola de tênis... E lá se foi...
Estranha sensação apoderou-se de mim. Era como se eu tivesse levado um choque. Fiquei estática por alguns instantes. Desisti de caminhar. Ajeitei a cadeira. Sentei-me.
Foi, então, que percebi, naquele lusco-fusco, dois vultos jogando tênis de praia: ele era mais alto, esguio, ágil; o outro, o oposto: mais baixo; mais cheinho; esforçava-se para acompanhar o jogo.
Lá ficaram até o sol se debruçar no horizonte.
De repente, não somente o sol desapareceu como os jogadores.
Não sei se por um instante me distrai. Só sei que, ao olhar novamente, num passe de mágica, já não mais lá estavam!
Voltei para o hotel, pensativa.
No dia seguinte, após uma noite de ansiedade, fiz um passeio pelo centro. À tarde, após pequeno almoço, resolvi caminhar pela praia.
Andei na beira da água onde a areia é mais firme. A sensação da umidade sob os pés é reconfortante, uma delícia!
Confesso que, olhava à volta tentando ver aquelas duas estrelas azuis que tanto me impressionaram. Mas, nada...
Retornei ao meu lugar. Deitei-me. Descansei não sei por quanto tempo...
Novamente, como se o dia anterior não tivesse passado, tudo aconteceu exatamente igual: o sol se pondo maravilhosamente; a brisa morna soprando; a mesma bola resvalando em mim; as mesmas estrelas azuis me fixando; as mesmas palavras...
E eu, lá, a ver o mesmo jogo!
O dia, mais uma vez foi embora. Tentei não desgrudar os olhos. Contudo, tão logo a luz da natureza se apagou, com ela o sonho também. Sumiu tudo, num repente...
Resolvi, então, que da próxima vez, não desviaria os olhos, absolutamente, e até, tentaria encetar uma conversa.
Assim, mais esperançosa, no terceiro dia, passei o tempo todo na praia, já pressentindo que tudo seria diferente.
E foi. Antes de o sol dormir definitivamente, um grupo se aproximou do local onde o jogo acontecia e depositou um ramalhete de flores.
Intrigada, me aproximei. Perguntei a uma senhora a razão de tudo aquilo.
“Hoje, faz exatamente um ano que meu filho e meu marido, deste local, partiram para a pátria espiritual...”.
(Publicado em Poesia e Prosa de Verão/Antologia/Taba Cultural/RJ/2009. Pág. 51).
Frances de Azevedo
Cadeira 39 da ACL