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Lázaro Piunti - (ficção).

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É do conhecimento geral que o primo do Primo do meu irmão Arlindo peca pela safadeza.

O episódio que relatamos teria ocorrido no simpático lugarejo denominado SOLIDÃO, onde pouco mais de cinco  mil habitantes vivem felizes.

A cidade, situada no sertão do Pajeú, interior pernambucano, na época deste suposto fato tinha menos de 800 originais da terra. Por que cargas d’água o primo do Primo do  Arlindo foi dar com os costados no distante vilarejo jamais saberemos.

Vamos à História! Era Semana Santa e o povo solidanense, fiel às tradições, organizou a secular procissão do calvário, ocasião em que jovens encenavam nas ruas empoeiradas, a peça teatral rememorando o sacrifício do Nazareno.

De que maneira o primo do Primo se envolveu com os artistas amadores e obteve o papel de centurião, nunca se saberá! A procissão se iniciou e grande público assistia à encenação.

Em piedoso silêncio, homens, mulheres, crianças e idosos ladeavam os artistas. A marcha do sofrimento prosseguia e o  artista infiltrado, no caso o primo do Primo feito centurião, desfechava chibatadas sem dó no moço que interpretava a figura de Jesus.

Após receber duas ou três chicotadas mais fortes, a vítima disse baixinho para o soldado que maneirasse no açoite, pois estava esfolando suas costas. Tudo em vão. O primo desnaturado continuou  metendo o relho no pobre condenado, que olhando feio mais uma vez para o carrasco, falou: “ó xente, tu tá abusando, vou já já perder a cabeça e tu não escapa, seu cabra da peste”. Falou entredentes, contendo-se ao máximo, pois as chicotadas já deixavam marcas roxas em suas ilhargas.

Aproximavam-se da penúltima estação e, fora do ritmo, o primo do Primo do Arlindo sapecou mais uma chibatada no indefeso Jesus, lanhando suas costas denudas. Foi a conta.

O homem se desfez das amarras, jogou a cruz no chão e partiu pra cima do agressor, que tentou correr, mas levou uma rasteira e caiu, sentindo a força dos punhos do Jesus indignado.

Apanhou feio.

O povaréu irrompeu em aplausos e gritos histéricos, vibrando com a justa reação do Nazareno. O primo do Primo, jorrando sangue pelas narinas, finalmente se safou da surra, saindo em desabalada carreira.

Escondendo-se no espinheiro do primeiro grotão, bateu com o cocuruto em um enxame de marimbondos, padecendo dolorosas ferroadas.

Acabou preso pelo senhor Delegado de Polícia e ficou um par de dias trancafiado na cadeia pública. Só foi solto após pagar pesada fiança. Bem feito!