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  • Fonte: \blog do Nalini 4/1/2021

Os que passamos a vida a estudar ciência jurídica aprendemos que a política é a arte da coordenação dos esforços para melhorar o mundo. Sem ela não se obtém avanço civilizatório. É o mister dos que seNalini 7 3abea interessam pela sorte dos semelhantes, dos idealistas, dos bem intencionados, dos que arrostam sacrifícios e não se perturbam diante das incompreensões.

Uma coisa é a teoria, outra a miserável prática. A proximidade do pleito municipal, o mais importante para essa ficção chamada “homem comum”, parece mostrar certo retrocesso na prática eleitoreira.

O século 21 oferece recursos mágicos das TICs, as Tecnologias da Informação e da Comunicação, com possibilidades infinitas de produção de mensagens compatíveis com a seriedade das escolhas.

O Brasil sempre foi considerado um espaço de talentosa criatividade, o que fez com que a música de Jobim, “Garota de Ipanema”, fosse a segunda mais ouvida no planeta no século 20. O maestro Antonio Carlos Jobim, o poeta diplomata Vinicius de Moraes, Chico Buarque, Gilberto Gil, Caetano Veloso, representam amostragem significativa do nosso bom gosto musical. E o que dizer de Oscar Niemayer, Lúcio Costa, Ruy Ohtake, Vilanova Artigas, Paulo Mendes da Costa, expressões da mais ousada estética arquitetônica desta terra?

Em todos os campos artísticos temos ícones reconhecidos no Primeiro mundo. Eles deveriam servir de inspiração para a medíocre propaganda eleitoral que o povo paga para não ouvir, nem assistir, nas rádios e nos canais livres.

Sem generalizar, porque isso é perigoso, o que prevalece é de dolorosa mediocridade. Chavões, reiteração de temas passados, que não convencem e não seduzem. Um vácuo melancólico de criatividade, de engenhosidade, de investimento em originalidade.

Pensar que somos a terra de publicitários como Roberto Duailibi, Washington Olivetto, Nizan Guanaes, para permanecer num trio representativo do que se produziu nesta terra tupiniquim, gera decepcionante estranheza pela pobreza da propaganda eleitoral. Que dizem “gratuita”, mas não é. É o povo pobre, espoliado por uma tributação que é a mais iníqua do mundo, que paga por esse tempo entediante. Mais uma injustiça infligida à população. A fome fiscal de um Estado inchado, ineficiente e perdulário, equivale à dos países mais adiantados do globo. O que se devolve em serviço público é equivalente à das nações mais pobres, atrasadas e em estágio inferior de desenvolvimento.

Mas não é só de falta de bom gosto que essa tentativa de motivação de um eleitor temeroso de enfrentar aglomerações em tempos de peste está a padecer. Falta bom tom, falta delicadeza, falta polidez. Nem se fale em etiqueta, numa terra que se tem destacado pelas agressões verbais e físicas, pelas ofensas veiculadas por redes sociais agressivas e mentirosas, pelo estranhamento rude entre pessoas que habitam o mesmo edifício. Para comprovar a veracidade do que já diziam os Romanos: “condominium mater rixarum est”: ou seja, o condomínio é a mãe das encrencas.

Um Brasil que tem Constanza Pascolato, Cláudia Matarazzo e Brasília de Arruda Botelho como paradigmas em comportamento, deve se envergonhar da maior parte das mensagens veiculadas estes dias. Acrescente-se à falta de algo novo, que pudesse ressuscitar a crença na representação, já que a Democracia Representativa está falida, a preferência por ataques aos adversários.

Parece que uma razoável parcela de candidatos não dispõe de qualidades pessoais para enaltecer. A mensagem que chega ao eleitor é: “eu não sou bom, mas o outro candidato é pior. Nada tenho para dizer que me exalte, que possa fazer com que eu mereça o seu sufrágio. Mas você já prestou atenção como os meus concorrentes são ainda menos providos de virtudes”?

Destruir, deliberadamente, a reputação alheia, não é algo que sirva para elevar o grau de qualidade moral de qualquer candidato. Por isso, um critério que resta para a seleção daquele que vai receber o meu sufrágio, é encontrar quem não fale mal dos outros.

Resta indagar o que está sendo feito da fortuna que este sofrido povo brasileiro paga para os Fundos – Partidário e Eleitoral – que teriam destinação focada na formação de um eleitorado maduro, consciente, politizado na melhor concepção do que deveria ser a política. Parece que nada se investiu nessa pedagogia de participação na vida pública. Por isso é que esse território parece reservado a pessoas que não são, exatamente, aquilo que a velha e boa educação moral e cívica aponta como exemplos.

Mas eleições ocorrem a cada dois anos. A esperança de quem ainda não perdeu a lucidez, em dias tão plúmbeos e angustiantes, é a de que a juventude assuma a linha de frente da política séria, para substituir a carcomida, velha e esclerosada estirpe que já não tem nada de bom a mostrar.

*José Renato Nalini é Reitor da UNIREGISTRAL, docente da Pós-graduação da UNINOVE e Presidente da ACADEMIA PAULISTA DE LETRAS – 2020-2021 e ocupa a Cadeira nº 8 da ACL