A Poesia volta e meia está na berlinda e não posso deixar de dar uma palavra sobre ela, uma vez que é a minha companheira de todos os dias.
Como definir a Poesia? - Poesia é a fala da alma! - é assim que apraz defini-la
Partindo para a metáfora, poderíamos dizer que, se mergulharmos um lenço, absolutamente imaculado, nos fluidos que envolvem a alma de um poeta e se o torcermos, em seguida... aquelas gotas cristalinas que pingarem serão a essência puríssima da poesia! Poesia boa ou má, de acordo com os
méritos do poeta que lhe deu origem, mas essencialmente, há de ser sempre poesia.
Poesia pura, que poderá ser trabalhada pelo talento ou prejudicada pela falta dele. A ganhar brilho e estilo próprio, ou a descambar para o artificialismo, em virtude da incompetência de quem a maneja. E isto é absolutamente independente de qualquer estilo abraçado.
A boa poesia não se faz reconhecida simplesmente pelo uso da rima e da métrica, nem também pela dispensa de ambas. Rima e métrica são dois elementos que emprestam melodia, cadência e sonoridade ao verso. Em tempos idos, estes dois elementos eram indispensáveis para o endeusamento daqueles que as sabiam usar, quase que intuitivamente e com excepcional maestria.
O poeta, ao abandonar a métrica e dar as costas à rima, partindo para o rotulado estilo livre, tem, por obrigação esmerar-se a fim de suprir esta preciosa dádiva poética que deliberadamente rejeita, para assim poder dizer-se livre e, não raras vezes, tranca-se num hermetismo que o separa do leitor levando-o à total perplexidade, aplaudido, por vezes, com certo constrangimento ou simples desejo de não desagradar o autor, atitude semelhante ao daquele que visita exposição de arte modernista que, embora figurativa deforma grotescamente o modelo, e não transmite sequer coerência aos olhos do espectador, e sequer a menor emoção, que é tudo o que se espera de uma obra de arte. A poesia é também, uma obra de arte. Quanto mais pura, quanto mais sincera e acessível, com maior emoção ela será acolhida.
Assim como o pão alimenta o corpo, a Poesia é o pão que alimenta a alma.
Muito importante, contudo, é que se saiba que o poeta costumeiramente chamado de clássico ou acadêmico tão somente porque usa o metro e a rima espontaneamente e sem qualquer dificuldade é, também, absolutamente livre! Repito: Livre, sim! E livre tão somente porque sente-se livre dentro daquilo que escreve... ou não será um bom poeta.
Contudo, não é fácil chegar a este estágio. Por isso mesmo, muitos passos iniciantes, desencorajados ante as primeiras dificuldades apresentadas pela poesia tradicional, derivam por atalhos, à procura de caminhos mais amenos que lhes permitam alcançar mais facilmente o limbo poético.
Entretanto, chamar de Livre tão somente aquele gênero de poesia ou de poeta que descarta estes dois elementos, harmônicos e melódicos, que inegavelmente emprestam musicalidade ao verso, chega a ser limitado e não totalmente certo! A expressão versos brancos já diria tudo, estabelecendo a diferença entre versos rimados e metrificados, ou não. Ou, então, por que não chamar de prosa poética àquele texto que foge aos cânones da poesia tradicional, e que ganharia méritos maiores se assim fosse classificado?
O que não pode ser desdito é que o bom poeta é livre sempre, seja qual a sua maneira de expressar-se em versos. Quer dando preferência a este ou aquele modo de poetar, mas sempre em ambos os casos, absolutamente livre, caso contrário, dificilmente qualquer um deles poderia ser considerado um bom poeta.
Quanto ao conteúdo, poético, poderia ser acrescentado algo ao que diz Fernando Pessoa quando classifica o poeta de "fingidor".
Sim, o poeta finge, não para enganar a ninguém... mas para iludir a si mesmo, ao pincelar seus versos com as tintas da felicidade, ajudando, quem sabe, apenas disfarça a própria dor, para, assim, poder lidar melhor com ela.
Repito, com esta atitude, o poeta não pretende, enganar a ninguém, além de si próprio, numa tentativa de convencer-se de que é feliz, quando, em verdade, pode estar até bem longe de o ser!
E, se isto acontece, é porque o poeta escreve, em primeira mão, para si mesmo, naquele instante em que arranca da alma a essência dos seus mais íntimos anseios e os traz à tona em meio a retoques e rendilhados poéticos que, por vezes, dissimulam seus próprios sentimentos.
Depois, aí, sim, é que aparece aquela necessidade de comunicação, uma vontade espontânea de dividir com outrem aquilo que a alma ditou. E o poeta entrega sua alma ao relicário de um livro que, ao passar de mão em mão, a desvelará aos olhos do público.
Os poetas clássicos foram exuberantemente mais solenes, os românticos mais simples e explícitos e os modernos, mais diretos e, quem sabe, menos sensíveis, ou até herméticos.
Encerrando este ligeiro comentário, seguem-se alguns sonetos nos quais tentei situar a Poesia como um todo, dentro de um plano respeitoso, acima da banalidade com que, algumas vezes lamentavelmente é tratada.