Esse tempo teimoso que se repete…Todo dia 7 de cada mês, as lembranças abrem caminho, mergulham na mente, para trazer a tona imagens, gestos e palavras do Príncipe dos Poetas Brasileiros, que ficou impregnado em nós.
Abro meu computador, em busca de arquivos fotográficos para ilustrar algum texto acadêmico, e, me deparo com um vídeo inédito de Paulo Bomfim. Vídeo que fiz em 2013, em janeiro.
O poeta me conta em depoimento espontâneo, sobre Anita Malfatti, o que também acredito ter virado lenda, mas uma lenda distorcida, sobre a tão falada crítica de Monteiro Lobato publicada em Jornal da época.
Acredito na teoria defendida por alguns, que o Tio Jorge krug, padrinho de Anita, conservador que era, após ter incentivado que a jovem fosse para Alemanha, acompanhando as amigas da família que foram estudar música, aproveitasse para se dedicar à pintura. O pai de Anita já havia morrido, então o Tio Jorge Krug pagou sua viagem, estadia e seus estudos. Mas, no retorno, ficou surpreso ao se deparar com aquela arte completamente expressionista, diferente da arte acadêmica que esperava. Quando Anita faz a exposição em 1917, o tio pede ao Rangel Pestana que interceda junto ao Monteiro Lobato, que escrevia para jornais, era conhecido e respeitado, para que de certa forma passasse “um pito” em Anita, pois quem sabe assim ela tenha uma retorno à ordem, ou seja, comece a pintar de forma normal, da forma acadêmica.
É certo que Monteiro Lobato não foi visitar a exposição de 1917, e que tanto o Tio Jorge, como Rangel Pestana tenham feito indicações ou sugestões para compor o tão falado artigo.
Alguns duvidam que o artigo tenha sido escrito a 6 mãos. Defendem que Monteiro Lobato jamais se sujeitaria. Mas, a verdade é que pode ter se compadecido de Jorge Krug, já que ele próprio era conservador. E, também levanta suspeitas por fazer crítica a uma exposição que não visitou. Se fosse nos dias de hoje, teria visitado virtualmente, mas, em 1917, só mesmo fisicamente. O que não aconteceu, conforme relatos da própria Anita Malfatti.
O vídeo que fiz de Paulo Bomfim, discutíamos exatamente sobre Anita ter se abalado com a crítica.
Alguns fatos históricos vão se perpetuando, as vezes de forma equivocada justamente porque as pesquisas são efetuadas sobre publicações que se tornam referencia.
Conheci Anita Malfatti através da minha lente sobre suas obras. Foram muitos registros fotográficos que fiz durante 8 anos, preparando as fotos para documentos de expertise. A cada nova obra que era chamada para fotografar, quase perdia o fôlego. Eu dizia em voz alta que Anita era uma caixinha de surpresas.
Anita foi, acredito, a nossa maior pintora brasileira, não só pelo legado pictórico que deixou, mas porque Anita Malfatti foi uma extraordinária aprendiz. Dominou todas as técnicas. Conheci no IEB – Instituto de Estudos Brasileiros, gravuras em metal, belíssimas. Explico: A família doou grande parte do acervo documental para o IEB. Nesse acervo, placas de metal com gravuras foram restauradas, e conseguiram rodar algumas cópias para presentear as 5 sobrinhas herdeiras e cópias ficaram no acervo da instituição também. Nessa época, o IEB apresentou uma exposição em homenagem a nossa “Mãe do Modernismo brasileiro”. Anita Malfatti.
Devo também a Anita Malfatti a ponte que me propiciou conhecer Paulo Bomfim. Foi por conta da minha curadoria sobre as obras de Anita, inaugurando em 2004 o Espaço Cultural da CAIXA, na Praça da Sé, que tendo pedido emprestado o retrato que Anita pintou do poeta, quando jovenzinho, me levou a um almoço na Rua Peixoto Gomide, e a partir daí, nunca foi quebrado o elo de amizade, cumplicidade e dedicação que tive por esse notável ser humanista, chamado Paulo Bomfim.