Em várias épocas, em diversas partes do mundo, as mulheres ficaram em silêncio durante muito tempo. Nas últimas décadas elas romperam esse silêncio e abriram nossos ouvidos e nossos olhos através da quebra de vários preconceitos, tabus e paradigmas idealizados pela figura masculina.
Essa libertação de estereótipos contribuiu para que hoje valorizemos cada vez mais as mulheres, em todos os seus modos de vida, com destaque para as que optaram pela maternidade, gestora da vida, naquilo que ela tem de imprescindível na formação da identidade de cada ser humano. Se para alguns foi uma redescoberta, para outros tem sido uma verdadeira e libertadora descoberta.
Uma libertação, todavia, ainda ofuscada pelo imperativo comercial de nossos tempos, fazendo o segundo domingo de maio um dia de consumo desenfreado, de venda de material de cama, mesa, banho, eletrodomésticos, joias, perfumes etc. Por isso somos convidados a ir além das aparências, abrir nossa inteligência para além publicidade, a superar as visões deturpadas pela prática de uma duvidosa pedagogia infantil. Autores como Jean Piaget, entretanto, com sua psicologia e pedagogia evolutiva, esclareceram quão complexos são os itinerários da psique infantil, desde os momentos primordiais da vida humana. São informações que, ainda que não pertençam à nossa área específica de atuação, não podemos negligenciar.
Contudo, mesmo com a fortíssima exploração comercial, essa data nunca chegou a ser completamente desvirtuada, porque a figura da mãe é de poder insuperável, tem raízes ancestrais, não sucumbe às investidas do sentimentalismo. O que mais importa, para além da razão analítica, do “esprit de géometrie”, para usar a linguagem de Pascal; o que nesta data comemoramos tem a ver com o “esprit de finessse”, a razão cordial, insere-se no dinamismo do afeto. Por que?
Comparando a mulher com o homem, este último, mesmo quando se entrega ao relacionamento mais íntimo que possa existir entre o casal, continua sendo o mesmo, enquanto a mulher é capaz de conceber: carregará em seu corpo, por nove meses, um novo ser, torna-se mãe. Carregará em seu coração, para sempre, a criança que concebeu, deu à luz, nutriu e educou para a vida. E poderá realizar esse “milagre” por diversas vezes. Um homem jamais realiza a experiência de um antes e um depois da maternidade. Ele pode e precisa aprender a ser solidário, mas jamais alcançará a energia que brota dessa grandeza corporal e espiritual própria das mães.
É o que justifica que as mães sejam acolhidas e veneradas com tanto carinho pelos filhos e filhas, sejam reconhecidas e agradecidas por seus maridos e parentes, recebam neste dia a expressão de uma afeição que não se esgota. E que, por justiça e mais ainda por amor, deverá se estender por todos os dias do ano.
(*) Jornalista profissional, professor de Filosofia e membro da Academia Cristã de Letras.