De luto a Poesia do Brasil, e, principalmente, a do nosso estado de São Paulo.
Cala-se uma das vozes mais fiéis dentre aquelas que fazem vibrar a bandeira das treze listas, às vésperas das comemorações que jamais permitiram fosse esta briosa data esquecida, mergulhada nas brumas do tempo.
Paulo Bomfim, o “Príncipe dos Poetas do Brasil” partiu. Um simples tombo caseiro derrubou por terra, de modo inglório, o autor de “Antônio Triste”, deixando mais tristes, ainda, aqueles que, com estima e enlevo, seguiam seu roteiro poético iniciado na Paulicéia a estender-se mundo afora, envolto naquela atmosfera característica da Terra da Garoa.
Certa vez, por telefone, Paulo Bomfim emocionou-me, ao ouvi-lo dizer que minha poesia lhe umedecera os olhos, assim como, anteriormente, o mesmo acontecera com Guilherme de Almeida.
A deliciosa surpresa fez com que meus olhos se turvassem, também, em solidária emoção. A sensibilidade poética é como aquele rio que brota, cascateia e flui mansamente a somar, aqui e ali, outras águas que a ele se misturam.
Guilherme de Almeida levou, para o seu derradeiro leito, uma rosa que minha grata emoção deixou sobre o seu peito. Não tive ocasião de, agora, fazer o mesmo, com relação ao autor de “O Caminheiro”, que, na fria tarde deste 7 de julho, estendeu sua trilha rumo ao infinito, deixando para trás o pasmo de uma súbita e dolorosa despedida.
Mais um “Príncipe da Poesia do Brasil” que se vai, restando o vazio de um espaço difícil de ser ocupado. O título foi portado, inicialmente por Olavo Bilac, e, em sequência, por Alberto de Oliveira, Olegário Mariano e, afinal, por Guilherme de Almeida que, espontaneamente, indicou Paulo Bomfim para seu futuro substituto.
Quem perde um grande defensor é o Soneto! Apesar das suas afinidades com os modernistas, Paulo Bomfim enriqueceu sua obra, deixando, ao seu público fiel, cinco livros de Sonetos que dão ênfase ao que já dizia Vasco de Castro Lima a respeito da imortalidade deste gênero poético, chamando-o, com carinho e respeito, de - “um velho de saúde invejável”.
Paulo Bomfim, dentro de sua alentada obra de verso e prosa, incluiu Poesia, Trovas, Crônicas e Textos Históricos num total de 37 obras, onde se incluem os cinco livros de sonetos citados que agregam valor ao seu acervo poético. Costumava também referir-se a este clássico gênero poético, repetindo em sua autossuficiência: - “O Soneto é Poesia vestida de gala!”.
Qualquer despedida é triste, principalmente quando quem parte é um amigo. Mais triste, ainda, quando se trata de um Príncipe da nossa Literatura, criando-se então uma lacuna difícil de ser preenchida.
Abro, já com saudosismo, o livro “O Caminheiro” - textos de autoria do grande Paulo Bomfim. Prensada entre as páginas, descubro um raro trevo de quatro folhas. Quem o terá deixado lá? Possivelmente, quem agora o encontrou.
E, estimulada pelo que sugere este trevo raro, desejo ao caro amigo, em despedida, a “sorte” de encontrar um mundo melhor do que este que ora deixa.
Mundo onde a Poesia corra para abraça-lo, tão logo seu vulto chegue ao portal do seu novo lar, oferecendo-lhe a Paz desejável, para que, siga indefinidamente, a compor seus belos e inolvidáveis versos. Que Deus o abençoe, Paulo Bomfim!