Esta homenagem ao Padre Viotti feita por Domingos Zamagna aconteceu no dia 20 de abril de 2021 na "1ª Tertúlia da Saudade"
Nascendo em São Paulo em 1906, e falecendo em 2000, Pe. Hélio Viotti viveu intensamente o século XX, sendo portanto testemunha de acontecimentos e processos extremamente relevantes, alguns dos quais passo a assinalar:
- as duas terríveis guerras mundiais, tendo sido mobilizado como Capelão-militar para a campanha da Força Expedicionária Brasileira na Itália;
- os avanços e retrocessos da nossa história republicana, a mudança da capital para Brasília, sem nos esquecer das duas ditaduras brasileiras, a de Getúlio Vargas e a ditadura militar de 1964-1985;
- a revolução Constitucionalista de 1932
- a ascensão do peronismo, com todas as suas ambiguidades, na vizinha Nação Argentina, onde Pe. Viotti viveu nas décadas de 30 e 40 e fez seus estudos de Teologia;
- a evolução do mundo da ciência e da cultura, desde os tempos de aluno nas etapas da longa e sólida formação jesuítica em Nova Friburgo-RJ, até como professor nesta mesma faculdade e nos colégios da Companhia de Jesus de São Paulo e da Bahia;
- o XXXVI Congresso Eucarístico Internacional, no Rio de Janeiro em 1955, com a vinda do Legado Pontifício Cardeal Bento Aloisi Masella, e a fundação da CNBB – Conferência Nacional dos Bispos do Brasil), por Dom Helder Câmara;
- nada menos que 34 presidentes da República brasileira, desde Afonso Pena até Fernando Henrique Cardoso;
- a evolução do universo religioso, durante sete pontificados (Papas Pio X, Bento XV, Pio XI, Pio XII, João XXIII, Paulo VI, João Paulo I, João Paulo II) com os movimentos de renovação bíblico-patrístico, litúrgico e ecumênico, intensificado sobretudo após a segunda guerra, tudo coroado pela maior expressão de aggiornamento teológico-pastoral da Igreja Católica, com o II Concílio do Vaticano (1962-1965).
Todos esses fatos, vividos sob o prisma da crítica histórica, humanística e cristã, contribuíram para dar ao nosso confrade senso de realismo a respeito da natureza da pessoa e da sociedade humanas, da complexidade das suas relações, extraordinária lucidez, competência profissional, têmpera intelectual, ascética e moral, abertura para a transcendência. Se ele não conheceu todos os problemas, pode certamente realizar sondagens, observações e intervenções muito amplas.
Mas, ao lado da fiel opção sacerdotal (ordenado em 1936), na Companhia de Jesus (Jesuítas) foi no campo da História que Pe. Viotti mais se distinguiu, com estudos aprofundados e publicação de dezenas de livros e centenas de artigos. Pesquisou incansavelmente a vida e obra dos fundadores de nossa cidade, Padre Manoel da Nóbrega e sobretudo o Padre José de Anchieta, tornando-se uma referência obrigatória para todos os historiadores profissionais e os amantes da história do Brasil. Poliglota, erudito, rigoroso, dotado de estilo agradabilíssimo, se o Brasil tem o seu “primeiro Apóstolo” conhecido e santificado, nós o devemos em grande parte à incansável e inapagável obra deste nosso confrade, que tomou assento em diversas associações culturais, e que, nesta singela homenagem à sua memória, lembramos com saudade que também, por mais de três décadas, como titular da Cadeira nº 36, honrou e engrandeceu esta Academia Cristã de Letras, da qual, no já remoto 14 de abril de 1967, foi um dos fundadores.
Domingos Zamagna é Jornalista profissional, professor de Filosofia e titular da cadeira nº 28 da ACL.